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19 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –33.1 - A ENGRENAGEM (e a sua compreensão)

“Esta operação de manipulação pela oligarquia através de dívidas, corrupção, derrube de governos é chamada de Globalização”. “Tal como o FED mantém o povo dos EUA numa situação de servidão através da dívida, o FMI e o BM executam esta tarefa à escala mundial”. John Perkins
Utilizamos expressamente o título de um livro do sempre recordado Soeiro Pereira Gomes, exemplo dos que lutaram e morreram pelos mais belos e elevados ideais da humanidade.
A Engrenagem é também título de um livro de Jean Paul Sartre em que este evidencia as suas perplexidades nunca resolvidas perante as contradições da vida, pois faltava-lhe a consistência dialéctica que Soeiro ou Bertholt Brecht souberam dar às suas obras.
Neste tema tomamos como base e referência declarações de John Perkins, ex-dirigente da empresa CGAST. Main Inc. e autor do livro “Confessions of an economic hitman”, feitas num vídeo apresentado no site www.legrandsoir.info.
A seguinte frase serve de apresentação à exposição de J.Perkins: “Há duas maneiras de submeter e escravizar uma nação, uma é pela espada a outra é pela dívida (John Adams – 1735-1826), esclarecendo-nos que “a dívida é uma arma contra os povos, os juros são as munições”.
Vale de facto a pena refletir neste tema já que as crises que ocorrem nas sociedades não são obra do acaso, de más escolhas das pessoas como nos querem convencer, de má gestão e maus comportamentos…éticos. (ver Ética – Setembro.2011). Um exército de comentadores e escribas ao serviço das oligarquias mantém assim a maioria na ignorância e na desinformação.
J. Perkins, classifica-se como um economic hitman, que traduzimos por mercenário económico. A forma como são utilizados estes mercenários para criar um império global é descrita em detalhe:
1- Identificar o país de cujos recursos se pretende apoderar, controlar ou reagir a que saiam fora do controlo imperialista.
2 – Prepara-se um importante empréstimo para esse país, em muitos casos pelo Banco Mundial ou organizações correlacionadas.
O país poderá ser seduzido ou pressionado. No caso português deparamos com governos cuja filosofia confessada era de submissão ao imperialismo, “os países amigos”. O povo foi seduzido e entorpecido com promessas de dinheiro barato. Um ministro do actual PR chegou a dizer que o equilíbrio da BC era um conceito ultrapassado, apenas importavam os fluxos financeiros. Um prof. de economia com púlpito na comunicação social afirma (esbracejando perante os incréus e relapsos) que não importa a taxa de câmbio. Este é o caldo de cultura i germina o desastre nacional.
O dinheiro não entra realmente para o país, sendo usado pelas nossas (J. Perkins refere-se aos EUA) grandes empresas para construir projectos de infraestruturas nesse país, beneficiando as pessoas mais ricas além das nossas grandes empresas.
Podemos verificar que basicamente foi isto que ocorreu em Portugal: um processo de desindustrialização, penetração estrangeira, abandono da protecção ao tecido produtivo nacional.
“Em qualquer dos casos o conjunto do povo desse país é deixado com uma dívida enorme. Dívida que não pode pagar, mas isto faz parte do plano.
Segue-se a descrição do processo de domínio do país.
3 - “Nós “mercenários económicos” regressamos e dizemos: Escutem, vocês devem imenso não podem pagar vendam o petróleo mais barato às nossas companhias, permitam-nos construir uma base militar, privatizem as vossas companhias de electricidade, água, etc. para serem vendidas às nossas multinacionais.
Isto aplica-se aos recursos naturais do país, principais empresas, mesmo que seja para posteriormente as destruir impedindo – ah! em nome do mercado, srs. professores e comentadores! – que se desenvolvam e tornem concorrentes, veja-se o caso da Sorefame e outras empresas da metalomecânica, da indústria naval, etc.
Aceites as condições, a divida é refinanciada para fazer pagar mais juros, com exigências chamadas “condicionalismos” e critérios de “boa governança” que significa privatizar e vender os seus recursos e serviços sociais ao estrangeiro"  - ou a monopólios nacionais, no entanto ligados aqueles interesses, pelo capital, pela abertura de fronteiras e pela ausência de políticas de desenvolvimento económico.
Como conseguir isto. J. Perkins descreve as práticas nas quais participou.
Passo 1 – Tentar corromper os governantes.
Passo 2 - Se o anterior não for possível, como no caso de governos progressistas ou que simplesmente se assumem como nacionalistas, mesmo sem definidas orientações de esquerda, entram em cena os “chacais” que se encarregam de preparar o derrube dos governos, distribuindo dinheiro a organizações politicamente enfeudadas ao imperialismo e que vão ter ampla cobertura mediática para fazer crer à opinião pública que se trata de todo o povo. Se mesmo assim não o conseguem organizam-se atentados para assassinar o líder popular e os dirigentes políticos mais influentes.
Passo 3 – Se não o conseguem o objectivo anterior, são enviados militares. O que pode ter a configuração de instrutores e de mercenários – classificados desde logo por “combatentes da liberdade” – que como terroristas, preparam atentados, sabotagens, conflitos separatistas. Porém, caso isto ainda não resulte, prepara-se a invasão do país, normalmente precedido de ampla difusão de hipotéticas ameaças aos países ocidentais. Estas acusações são simplesmente ridículas avaliando o potencial e efectivos militares desses países. Porém o tema é dramatizado, desenvolvido e fantasiado até à exaustão na comunicação social, fabricadas calúnias sobre apoio ao terrorismo, armas de destruição maciça, violação de direitos humanos, genocídio. Relatos posteriores provam ser completamente falsos.
Este processo tem-se desenrolado nos mais variados locais da América Latina, África, Ásia, Europa. O resultado é a destruição económica e social de países que passam a ser flagelados pela fome, pela, pobreza, pela dívida, pela repressão.
Apontamos apenas alguns casos paradigmáticos cujas consequências trágicas vêm até hoje: Irão, destituição de Mossadeg em 1953. Nicarágua assassínio de Jacob Arbenz em 1956 e contras anti-sandinistas na década de 80 do século passado. S. Salvador e Colômbia terrorismo de Estado de governos de direita. Terror fascista neoliberal no Chile, Argentina, Bolívia, Uruguai, entre vários outros países da América Latina. Assassínio de O. Torrijos no Panamá. Assassínio de Jaime Roldon no Equador. Assassínio e golpe contra Patrice Lumunba no Zaire, além das conspirações e golpes contra praticamente todos os líderes nacionalistas africanos, alinhados com o movimento terceiro mundista e antiimperialista. Invasão do Afeganistão, contra o governo progressista, não pelas tropas soviéticas que combatiam a agressão externa, mas pelos mercenários apoiados pelos EUA, Arábia Saudita e Paquistão. A lista dos é quase infindável: desde o final da II Guerra Mundial, não incluindo ameaças nucleares ou outras, contam-se 56 intervenções militares directas ou o com comando das operações.

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