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22 de outubro de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO –33.2 - A ENGRENAGEM II (e a sua compreensão)

Continuamos este tema que tem como base e referência declarações de John Perkins, ex-dirigente da empresa CGAST. Main Inc. e autor do livro “Confessions of an economic hitman”, feitas num vídeo apresentado no site www.legrandsoir.info.
As guerras, recurso a que a oligarquia imperialista deita mão após falharem as tentativas de corrupção, conspiração, assassinato de dirigentes progressistas, não deixa de lhes ser vantajosa quer pela produção de material bélico quer por “constituir um negócio muito lucrativo para reconstruir o que tínhamos destruído”, (J. Perkins é norte-americano). Sabemos quem tem tudo a perder e quem paga as custas, o povo tanto no país agredido como no agressor.
“A maioria da população dos EUA não tem nenhuma ideia que nós vivemos em função de um império clandestino. Que hoje há mais escravatura no mundo como nunca antes”.
Se há um império, quem é o imperador? A situação assemelha-se à da republica romana em que um senado oligárquico dirigia o império designando periodicamente o respectivo líder (os cônsules).
Actualmente, existe uma oligarquia (corporatocracy) que dirige as grandes empresas deste império controlam os media directa ou indirectamente pela publicidade e controlam a maior parte dos políticos porque financiam as suas campanhas.
No topo destas grandes empresas estão pessoas que tanto trabalham para o governo como para as empresas, pois o movimento de vai e vem é constante. Assim, “as estratégias do governo são forjados pela oligarquia e apresentadas ao governo tornando-se planos governamentais. Todos trabalham para o mesmo princípio de maximizar os lucros independentemente dos custos sociais e ambientais”. “Esta operação de manipulação pela oligarquia através de dívidas, corrupção, derrube de governos é chamada de Globalização”. “Tal como o FED mantém o povo dos EUA numa situação de servidão através da dívida, o FMI e o BM executam esta tarefa à escala mundial”.
Vimos, na 1ª parte, como o esquema é na realidade simples, colocar o povo em dívida, para o que a propaganda à sociedade de consumo, a facilitação das dívidas, o apelo à euforia com apagamento da memória histórica e a sua falsificação, criam as ilusões que desmobilizam as camadas populares e as levam a aderir a políticas contrárias aos seus interesses. O exemplo mais simples desta “engrenagem” está descrito na história infantil de Pinóquio. As crianças eram seduzidas com ofertas de doces e festas para abandonarem a escola e os pais e seguirem falsos guias que depois as escravizavam transformando-os em animais de trabalho e de circo. Esta história, note-se, contém os ingredientes das ilusões da modernidade e pós-modernidade, da publicidade ao trabalho precário nos anos 90 como uma “libertação da burocracia sindical” e a difusão de teses em que o indivíduo recusando ideologias seria “livre”. Os resultados desta "liberdade" - a "sociedade aberta", também! - estão hoje os jovens e todos os trabalhadores a sentir: desemprego massivo,  precariedade, perda dos direitos laborais duramente conquistados pelos seus pais e avós.
O que ocorre depois sabe-se, e é tão simples que é necessário que políticos e comentadores do sistema persistam constantemente na deturpação das causas e na ameaça das “inevitabilidades”: “Colocar o povo em dívida, dividir o povo em conflitos ou corromper os líderes, impor “condicionamentos” e “políticas de ajuste estrutural” tornando os recursos do país disponíveis para os países predadores, grandes cortes nos programas sociais, privatização de empresas públicas, colocando na mão de empresas estrangeiras – ou monopólios nacionais, no entanto interligados com o capital estrangeiro – infraestruturas fundamentais com vista ao lucro”.
A liberalização do comércio externo e a livre circulação de capitais são também uma arma deste arsenal predatório. A liberalização do comércio externo “permite uma quantidade de realizações económicas abusivas tal como a introdução em massa de produtos das empresas transnacionais, arruinando a economia local”.
Estas situações não estão a ser aplicadas apenas aos povos dos outros continentes, são em absoluto evidentes e similares ao que ocorre no nosso país e em muitos outros da UE.
Não espanta, pois, vermos o quase total descontrolo de personalidades do sistema ao serem confrontadas com as realidades, quando, normalmente sem contraditório, se assumem como distintos gentleman e sapientes oráculos.
Em Portugal este processo, conduzido pelos sucessivos governos, levou à liquidação de muito da nossa produção agrícola, pescas, indústria, colocadas em situação de não concorrer com as transnacionais, levou à venda de empresas emblemáticas ao estrangeiro e à ausência de planeamento económico. Tudo isto é feito com uma intensa campanha mediática, na base de falsidades e dogmáticas que passam por ciência provada, mil vezes repetidas de formas diversas conforme as audiências, para garantir o conformismo, a passividade da população perante a agressão aos seus direitos e interesses fundamentais, escondendo a sempre crescente riqueza da oligarquia e da sua clientela - no sentido romano do termo.
Eis, portanto, alguns elementos para a compreensão da actual engrenagem de submissão e exploração dos povos.

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