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30 de março de 2012

Projecções macroeconómicas do Boletim de Primavera do Banco de Portugal

Algumas Notas

1. As sucessivas projecções macroeconómicas para 2012 efectuadas para a economia portuguesa nos últimos seis meses pelo Banco de Portugal, nos três últimos boletins económicos de Outono e Inverno de 2011 e Primavera de 2012, são bem elucidativas da situação que vivemos. De previsão em previsão o cenário macroeconómico é cada vez mais negro.
2. Nos últimos seis meses a previsão, por parte do Banco de Portugal de queda do PIB em 2012 agravou-se em 54,5%. Se em Setembro se previa que a recessão em 2012 atingisse os -2,2%, agora com a informação disponível no BP essa previsão de queda já é de -3,4%.
3. Para o agravamento nas previsões de recessão em 2012 contribui fundamentalmente o agravamento esperado na queda do Consumo Privado, na queda das importações, na queda do investimento e o menor crescimento que agora se estima para as exportações.
4. O impacto esperado das medidas do pacto de agressão em 2012, em que se destacam o corte, em termos reais, dos salários e das pensões de reforma em 17%, resultante da supressão do subsídio de férias e natal para a esmagadora maioria dos trabalhadores da Administração Pública e do Sector Empresarial do Estado e para grande parte dos reformados, o congelamento dos salários nominais dos restantes trabalhadores da Administração Pública e do sector privado, a redução de 50% nas retribuições por trabalho suplementar, a subida dos preços dos transportes públicos e da energia bem acima da inflação, o aumento do IVA e do IRS, os cortes nos apoios sociais às famílias e aos desempregados, o aumento das despesas com saúde e educação, leva a que a mais recente previsão do cenário macroeconómico (boletim da primavera do Banco de Portugal) preveja uma queda do PIB em 2012 que é praticamente o dobro da que era esperada antes da sua assinatura (de -1,6% passou para -3,4%), com o Consumo Privado a cair como nunca (-7,3%), o Consumo Público também em queda e o Investimento a continuar o seu já longo percurso de queda contínua, que faz com que o seu nível real actual se situe próximo dos níveis de 1996.
5. O impacto recessivo de todas estas medidas será de tal forma elevado em 2012 e 2013 que o próprio Banco de Portugal, neste seu último boletim económico da primavera, prevê uma queda do emprego de -3,6% em 2012 e de -0,7% em 2013, o que significa a destruição nestes dois anos de cerca de 207 mil empregos e a correspondente subida do desemprego. Não é por acaso que o próprio governo, sempre muito cauteloso no cálculo das previsões do desemprego, veio há muito pouco tempo corrigir as suas previsões da taxa de desemprego para 2012 e 2013, prevendo agora mais 60 mil e 40 mil desempregados do que quando da assinatura do pacto de agressão. Tudo leva a crer, que mesmo assim, uma vez mais peque por defeito nas suas previsões de cálculo da taxa de desemprego neste e no próximo ano.
6. O Boletim Económico do BP reconhece que o elevado nível de inflação esperado para 2012 (3,2%), depois de em 2011 ela se ter situado nos (3,7%) é reflexo do crescimento dos preços associado a decisões administrativas (subida dos preços dos transportes públicos, da electricidade e gás e dos cuidados de saúde) e dos aumentos da tributação indirecta (alterações introduzidas no IVA ) e conclui que estes aumentos não se vão transmitir aos salários, pelo que dizemos nós, eles vão contribuir para a queda considerável do poder de compra dos trabalhadores.
7. O Banco de Portugal reconhece ainda neste seu boletim de Primavera e à imagem do que fez em anteriores boletins, que são elevados os riscos de uma evolução mais desfavorável da actividade económica, quer isto dizer de a queda do PIB em 2012 ser superior ao que agora projectam, como resultado da degradação da envolvente externa.
8. Uma nota ainda para referir que o Banco de Portugal depois de no boletim de Inverno apresentado no passado dia 13 de janeiro ter projectado um crescimento em 2013 de 0,3%, vem agora na sua 1ª revisão do PIB para 2013 apontar para uma estagnação com uma variação nula do PIB 0,0%. A pergunta que não pode deixar de ser feita neste momento é esta. Na próxima revisão, qual vai ser a previsão de queda do PIB em 2013?

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