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14 de janeiro de 2013


A notícia de amanhã: uma divisão política que se amplia, por François Leclerc


11 Janeiro 2013 por FRANÇOIS LECLERC | 
Do blog de PJ.
Os líderes europeus mudaram as suas expectativas e, não mais esperando mais ver pequenos brotos verdes de crescimento, procuram sinais no céu. Acampados num terreno que eles conhecem e gerem melhor do que as finanças, porque é o deles, o terreno da política tal como eles a praticam.


Há dois marcos importantes pela frente: as legislativas italianas em Fevereiro precipitadas por causa de Silvio Berlusconi e as eleições alemãs agendada para o próximo Outono. Ambos são portadores de incerteza: a vitória do Partido Democrático italiano poderia levar a uma aliança com Mario Monti, enquanto Angela Merkel seria forçado a formar uma grande coligação com o SPD por causa da queda do FDP. As condições políticas estariam então reunidas, pelo menos no papel, para que uma mudança na estratégia actual de desendevidamento pudesse enfim ter lugar. A campanha eleitoral italiana já decorre sobre um fundo de acusações e promessas de alívios do sistema fiscal.


Estando fechada a pista de um relançamento com base em créditos novos - como evidenciado pela re-afectação estudada pelo último seminário do governo francês - que flexibilidades poderiam intervir? Em primeiro lugar aquelas que se impuseram de qualquer maneira, para começar, por exemplo como a extensão do cronograma de redução do défice em Portugal, desencadeando um movimento mais amplo. Em segundo lugar podia ser feito uma concessão à Irlanda, de que a Espanha em seguida poderia beneficiar e que Jean-Claude Juncker sugere, no testamento vingativo do até ontem líder do Eurogrupo: uma retroactividade de assistência financeira directa aos bancos aliviando os orçamentos dos Estados. A Irlanda também espera poder beneficiar do programa de compra de títulos do BCE (OMT). Mas está-se muito longe de tudo isto.


Enquanto isso, sinais de uma distensão frágil são declarados ou enviados pelo BCE: no mercado das obrigações, as taxas espanholas caem e multiplicam-se rumores de pagamentos antecipados por alguns bancos de empréstimos do BCE a três anos. Este também decidiu manter a sua taxa de juro a 0,75%, registando uma "melhoria significativa das condições nos mercados financeiros" e "uma estabilização geral de certos indicadores de conjuntura." Será que estamos no caminho para a normalização? Seria demasiado rápido dizer isso, porque as medidas já tomadas continuam a produzir os seus efeitos sobre o impulso. E se o governo espanhol aproveitou a calmaria que continua no mercado de títulos, ele não introduziu mais cláusulas de ação colectiva quando da emissão afim de facilitar qualquer posterior reestruturação de sua dívida.


O Banco de França acaba de confirmar que a França tinha entrado em recessão, uma redução de 0,1% do PIB foi registada nos dois últimos trimestres de 2012. A publicação na imprensa portuguesa das conclusões de um relatório encomendado pelo governo ao FMI, ao Banco Mundial e à Comissão Europeia produziu o efeito de um tiro de canhão no país. Aí se recomenda a redução do número de funcionários, bem como as suas reformas e salários no período de 2013-2014, de modo a fazer economias de 4.000.000.000 de euros. Isso no contexto da adopção de um orçamento de 2013 que já prevê 5,3 biliões em poupanças, daí que o Tribunal Constitucional a pedido do presidente Aníbal Cavaco Silva tenha sido convocado.



De acordo com a ESA, a autoridade estatística grega, o desemprego num ano passou de 19,7% a 26,8% da população activa (mais de 56% dos jovens), o que corresponde a 1,345 milhões de desempregados. Mas é a pedrinha cipriota que fere os líderes europeus, os bancos do país sofrem os efeitos do colapso dos seus colegas gregos. Resgatar o país é inevitável, mas tudo é apresentado para poderem arrastar no tempo. Nem o FDP nem o SDP estariam prontos para o adoptar no Bundestag, antes de verem com mais clareza as operações de branqueamento de que Chipre é uma placa geratória, o que torna impossível a sua adopção.

Em Espanha, finalmente, os bancos com resgate em curso continuam sempre a chamar a atenção sobre eles, mas de uma nova maneira: milhares de funcionários do bancos ameaçados por demissões massivas manifestam-se sobre o tema "não somos banqueiros, mas trabalhadores! ". Rodrigo Rato, ex-director-geral do FMI, ex-ministro e dirigente do Bankia, foi levado à justiça por fraude e desvio de fundos, enquanto o Banco de Espanha é duramente criticado num relatório dos inspectores do banco central citado pelo El País, segundo o qual os controladores tinham apanhado o hábito de não ver o que estava acontecendo no setor bancário, olhando para o lado.


No capítulo dos escândalos, os da Libor e Euribor fumegam. Ex-empregados têm questionado o Deutsche Bank pela especulação maciça no primeiro destes índices e o banco holandês Rabobank, que foi identificado como sendo alvo de uma investigação, decidiu retirar-se do painel de instituições que ainda continuam a fixar a Euribor. Aconteceu o mesmo com o banco alemão BayernLB. Espera-se uma comunicação da Comissão, que tarda, após a sua investigação.


A crise própriamente financeira estabilizou-se provisoriamente sob os auspícios do BCE, é a sua dimensão económica que prevalece, no contexto de um aprofundamento da sua dimensão social e política. A alternância não é mais promissora de mudança, instaurou-se uma desafecção da vida política, as negações são moeda corrente e a corrupção uma prática estabelecida, minando a credibilidade de um discurso político que coloca a sua inspiração nos recursos de comunicação. A fractura era social, tornou-se política. A margem de manobra que os dirigentes esperam encontrar não a reduzirá tão facilmente.
Tradução de Margarida Silva



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