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24 de julho de 2013

CARMONA, CAVACO E A “SALVAÇÃO NACIONAL”

Carmona foi PR entre 1926 e 1951, a propaganda fascista fazia dele uma personagem bondosa, um simpático e inofensivo “corta fitas” fazendo festinhas às crianças. Esta imagem é falsa. Carmona tornou-se de facto um adorno do salazarismo, depois de ter colocado Salazar no poder absoluto e ser instaurado o fascismo.
O papel de Carmona foi o de um exemplar intriguista, eliminando a contestação republicana e simples vestígios de democracia até a ditadura ser implantada com o apoio da oligarquia monopolista e latifundiária e da hierarquia católica.
Carmona, surge incontestado após serem eliminados os outros elementos do golpe de direita de 1926 (Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa). Conseguiu, mesmo através de intensa contestação popular e militar republicana, unir as direitas à volta de um programa fascista mascarado de nacionalismo e tradição: Deus, assente na superstição e ignorância popular; Pátria, entregue à oligarquia nacional e estrangeira com o povo submetido a cruel repressão; Família, oprimida na pobreza, miséria, tuberculose e alcoolismo. A propaganda fascista chamava a isto: “Caminhando para uma vida melhor”.
Cavaco e a sua “Salvação Nacional” foi uma tentativa de comprometer o PS numa política dominada pela direita, válida para quem quer que governasse. Cavaco pretendia eleições tal como no salazarismo após a II Guerra Mundial: havia eleições, mas não escolha de alternativas políticas.
Criava-se assim um sucedâneo da União Nacional salazarista ou da ANP marcelista. As políticas estavam à partida definidas na agenda de Cavaco – na submissão total à troika e aos mercados sempre em nome do “superior interesse nacional”. A comunicação social controlada se encarregaria de garantir que não houvesse desvios.
A forma como a direita convive mal com a democracia expressa-se nestas palavras de P. Coelho a 18 de julho perante jornalistas, no Conselho nacional do PSD: “Não há coisa mais incerta que as eleições, se não tivermos cuidado a lidar com este tópico específico, podemos estar a criar condições de incerteza que acabem por comprometer os esforços que queremos realizar de (sic) regressar aos mercados com confiança dos investidores”.
O entendimento entre Cavaco e P. Coelho é neste "tópico"total e Cavaco lança mais uma acha para a fogueira do populismo antidemocrático ao dizer: “os portugueses tirarão as suas ilações sobre os agentes políticos se não houver acordo”.
A jornalista Maria Avilez dizia na SIC Notícias (23/07) perante um embevecido M. Crespo (sempre pronto a interromper ou fazer o contraditório a quem se afaste da linha oficial da direita) “uma enorme, uma esmagadora maioria do país, talvez 98% querer o acordo que o PR falou”. Quer dizer: PCP, BE, parte significativa do PS são 2% ou já não contam como portugueses.

A Diferença entre Carmona e Cavaco é que o primeiro foi PR da “Ditadura Militar”, depois “Ditadura Nacional”, resultante do golpe militar de direita de 1926. Cavaco é PR de um regime saído de uma Revolução que derrubou o fascismo e dispõe de uma avançada Constituição democrática. Ao contrário dos passados anos 20 e 30 hoje existe um movimento sindical forte e bem estruturado, um movimento popular determinado e, o que mais lhes custa, um PCP unido e fortalecido.

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