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11 de julho de 2014

Comércio Externo

A fragilidade do comércio externo português e um aparelho produtivo incapaz de dar resposta a um aumento da procura interna !


Nota sobre o comércio externo de mercadorias nos primeiros  cinco meses de 2014
1. Os dados do comércio externo de mercadorias entre Janeiro e Maio do corrente ano são marcados, comparativamente com o mesmo período de 2013, pela queda das exportações em -0,9% (menos 187 milhões de euros), pela subida das importações em +2,3% (mais 541 milhões de euros) e consequentemente pelo agravamento em 728 milhões de euros do saldo negativo da nossa balança de mercadorias.
2. A nossa balança comercial de mercadorias apresentava nos 1os cinco meses de 2013 um saldo negativo de -3 368 milhões de euro para passar a apresentar em igual período de 2014 um saldo negativo de -4 096 milhões de euros. Um agravamento de 21,6% neste saldo negativo da balança comercial de mercadorias. Uma análise das exportações e importações por 17 grandes grupos de produtos disponibilizada pelo INE permite-nos de forma mais pormenorizada analisar essa evolução:
2.1. As exportações de combustíveis minerais que correspondem às exportações de refinados de petróleo, depois de terem mais do que duplicado as vendas nos últimos 4 anos, fruto da entrada ao serviço de uma nova unidade de refinação de petróleo da GALP em Sines, caíram nos últimos 5 meses 38%, uma queda no volume de vendas neste período de 808,8 milhões de euros. Esta foi uma queda determinante para evolução negativa das exportações e foi o resultado da paragem para manutenção durante cerca de 45 dias da unidade de refinação. Ela espalha bem o nosso elevado nível de dependência das exportações de pouco mais de meia dúzia de grandes empresas (Petrogal, Volkswagen Autoeuropa, PortucelSoporcel, Repsol, Continental Mabor, Bosch, Somincor ).
2.2. As exportações de pastas celulósicas e papel caíram também 3,8%, uma queda que se reflectiu na venda de menos 37,5 milhões de euros;

2.3. As exportações de máquinas e aparelhos caíram 1,1%, menos 31,8 milhões de euros; 2.4. As exportações de bens alimentares caíram 1,5%, menos 14,8 milhões de euros e as
exportações de outros produtos caíram 1,3% menos 15,3 milhões de euros. 2.5. Ao mesmo tempo que se registaram quedas na evolução das exportações dos cinco grandes grupos de produtos acima referidos, outros grupos de produtos registaram neste período evoluções bem positivas. Referimo-nos concretamente aos produtos de vestuário que cresceram nos 1os cinco meses do ano 13,5%, mais 138,6 milhões de euros de volume de vendas, ao grupo de produtos veículos e outro material de
1transporte que cresceram 5,1%, mais 112,4 milhões de euros, aos plásticos e borracha que cresceram 7,8% mais 107,3 milhões de euros, aos produtos agrícolas que cresceram 9,4%, mais 93,4 milhões de euros, ao calçado cujas vendas cresceram 10,5%, mais 69,4 milhões de euros de vendas, às matérias têxteis cujas vendas cresceram 8,0% mais 58,9 milhões de euros, etc.
2.6. Embora sejam vários os sectores cujas vendas de produtos estão a evoluir positivamente como atrás se comprova (têxteis e vestuário, calçado, plásticos e borracha, veículos e outro material de transporte, produtos agrícolas, entre outros), essa evolução é insuficiente para compensar o impacto extremamente negativo do forte abrandamento das vendas de produtos refinados resultantes da paragem para manutenção da unidade de refinação de Sines.
2.7. Mas a balança de bens não se deteriorou nos 1os cinco meses do ano apenas porque as exportações caíram no seu conjunto, essa deterioração resultou fundamentalmente do aumento verificado nas importações, que como atrás referi cresceram 2,3%, mais 540,7 milhões de euros.
2.8. Destacam-se aqui pelo seu crescimento as importações de veículos e outro material de transporte (+ 25,1% e mais 503,6 milhões), as importações de máquinas e aparelhos (+ 6,9% e mais 227,3 milhões de euros), as importações de vestuário (+ 14,9% e mais 90,0 milhões de euros), as importações de plásticos e borrachas (+ 5,7% e mais 77,5 milhões de euros) e as importações de peles e couros (+ 16,6% e mais 50,1 milhões de euros), para só referir as mais significativas.
3. Conhecida a evolução das exportações e das importações de mercadorias em cinco meses do ano corrente (-0,9% e 2,3%), começa a ficar claro que muito dificilmente serão atingidas as metas para o comércio externo definidas por este Governo para o corrente ano (5,7% e 4,2% de crescimento das exportações e das importações de bens e serviços). É verdade que às exportações e importações de mercadorias à que adicionar as exportações e importações de serviços, mas também é verdade que as mercadorias pesam cerca de 3⁄4 e os serviços 1⁄4 no total da exportações e importações de bens e serviços. Por isso mesmo seria necessário um ritmo de crescimento muito superior dos serviços para compensar a queda ou um fraco crescimento da evolução das vendas de mercadorias, o que não nos parece ser possível.
4. A evolução das exportações e das importações nos próximos meses, já com a refinaria de Sines a funcionar em pleno e provavelmente com as importações a continuarem a crescer bem acima daquilo que o Governo perspectivava, serão decisivos para se verificar até que ponto o milagre económico de que o Governo fala – o tal equilíbrio da balança corrente - ,
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não passou apenas de alucinações, já que qualquer animação da procura interna, mesmo que ligeira, induz automaticamente aceleração do ritmo das importações e consequentemente o desequilíbrio da nossa balança com o exterior. O agravamento que se registou na nossa balança comercial nos primeiros meses cinco meses do ano é um indicador claro disso mesmo.
CAE, 11 de Julho de 2014 José Alberto Lourenço

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