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19 de novembro de 2014

“Nós não discutimos a dívida, não discutimos o euro, não discutimos a banca”

Foi o que se passou na AR perante as propostas do PCP, sobre renegociação da dívida, debate sobre a saída do euro, controlo público da banca. O PS votou contra todas ao lado do PSD e do CDS; PCP, PEV, a favor; BE a favor, exceto na questão do euro em que se absteve. A posição do PS é reveladora das suas ambiguidades, aliado no essencial à sua direita.
Portanto, para a”troika interna” o chamado “arco da governação” neoliberal a dívida não se discute, pois isso perturbaria os mercados; o euro não se discute pois seria a catástrofe (como se catástrofe não fosse o que está acontecer com o euro), o controlo da banca não se discute pois isso prejudicaria a fraude, a especulação a agiotagem: é preferível o país afundar-se na austeridade…
A postura dos três partidos, faz lembrar o famigerado discurso da “Sala do risco” em 1933, que definiu o clerical-fascismo salazarista: “nós não discutimos Deus, não discutimos a Pátria, não discutimos a família”.
Mas não tem sido dito que o neoliberalismo era o fascismo atual?
Alguns dados:
Em 1999, antes do euro, o défice público era 3,1% do PIB; a dívida 49,4%; os juros 2,9% do PIB.
Em 2010, o défice passa a 9,8% do PIB; a dívida 94%; os juros 2,8% do PIB.
Vem então a troika “salvar” o país, isto é os banqueiros, que é quem conta, e:
Em 2014 vamos ter algo como: o défice será 5% do PIB (segundo o FMI), sem receitas extraordinárias seria 9 ou 10%; a dívida atinge 134%; os juros 4,7% do PIB.
Desde 2009, o rácio dívida pública/PIB Português foi aumentando a uma taxa média de um ponto percentual (1% pt) por mês.
Ora quando a despesa de juros em percentagem do PIB excede a taxa de crescimento nominal do PIB, o fardo da dívida torna-se insustentável.
No fantasioso OE para 2015, os juros serão cerca de 4,6 ou 4,7% do PIB, mas  na hipótese otimista e triunfalista do governo o crescimento será  apenas 1,5%, isto após uma recessão acumulada superior a 6%.
A regra de ouro, não é a que o PS, PSD e CDS aceitam pelo Tratado Orçamental é a de que se as taxas de empréstimos excederem as taxas de crescimento nominal, dívida/PIB vão em direção ao infinito, sem um primário excedente que o compense, à custa do investimento e rendimento distribuído aos cidadãos, isto é, ao desenvolvimento da país.
POtanto com juros (sem amortizações...) 4,6 ou 4,7% do PIB, um défice que ninguém acredita ser inferior a 3%, para a economia ser sustentável nestas condições, o crescimento do PIB teria de atingir valores absurdos.
Conclusão, não discutir a dívida, o euro, o controlo da banca. Eis como se exprime o neoliberalismo: a fusão fascista de grandes negócios e governo. Tudo isto com o PS a fazer de conta que esta é a democracia que convém. Mas a quem?

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