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4 de fevereiro de 2015

O Syriza e a rosa

Dizia o poeta que “uma rosa é uma rosa, nós e que nos temos definir perante ela”. Assim é com o Syriza. Eis que uma certa esquerda de “pureza revolucionária”, por cá e noutros países da UE, desatou a criticar o Syriza por…não fazer a revolução proletária!
Atacar o Syriza por isto é como espadeirar na água. O Syriza não é nem será um partido revolucionário, é um partido da social-democracia tradicional com traços nacionalistas, porém, é o primeiro partido no governo na UE a contestar o pensamento único neoliberal e isso bastou para abanar o mundo de embustes sobre os quais está construída a UE.
 Que espécie de “rosa” é o Syriza, o tempo dirá. Entretanto, o governo grego, com as inevitáveis contradições deste processo, encetou uma luta que tem aspetos positivos para todos os povos europeus. A reação ataca o Syriza, e não podemos juntar a nossa voz à reação.
Marx, considerou “uma criancice, que deverá agradar ao sr. Bismark”, dizer-se que “perante a classe operária todos os outros partidos formam uma massa reacionária” (Crítica ao Programma de Gotha). No Manifesto, Marx e Engels, dizem no cap. IV “os comunistas trabalham em todas as partes pela união e o acordo entre os partidos democráticos de todos os países”.
Aparecem uns teóricos que clamam pela “revolução proletária”, não percebendo sequer que a classe operária, grega, como a portuguesa, o sector mais combativo do proletariado, foi previamente destruído, levado ao limite da subsistência.
Acusam os “puros” que o Syriza quer e defende o Estado burguês. Fazendo coro com a ração dizem que o Syriza “mergulhará a economia grega ainda mais fundo no abismo.” Esta esquerda “verdadeiramente revolucionária” não tem problemas em juntar a sua voz a Passos Coelho, Pires de Lima, Marques Gudes, Rajoy em Espanha, ao Schauble, ao Junker, etc.
Este “esquerdismo” diz sempre o mesmo: foi contra Allende, foi contra o 25 de ABRIL, que acusavam de ser “um golpe de Estado da tropa colonialista”. Quando há a perspectiva de reais avanços contra a política de direita  aparecem  a acusar de traição por não se estar a fazer a “revolução proletária”. Só falta saber quem lhes dá mandato para isso. É a história dos ratos que tinham decidido pôr um badalo no gato…
Fidel Castro teria sido um traidor, pois após a Revolução convidou para presidente da República um conservador e proprietário de terras; Lenine outro, pois em vez de fazer a Revolução mundial foi propor a paz aos imperialistas alemães. Graças à “pureza” de Trosky, as condições acabaram por ser bem piores que inicialmente previsto. Etc., etc.
O esquerdismo, aliado á direita, atacava o PCP por não ser “revolucionário”. Quando se estabeleceu a política de direita esfumaram-se… Os mesmos que quando começaram os ataques terroristas no Norte contra o PCP e o MDP, diziam que “tinha começado a luta popular”.
Este texto, lembra que no dia que o povo português encetar luta idêntica, não tardarão os “educadores da classe operária” a criticar todos os esforços de avanço do progresso com as habituais acusações de traição à “revolução proletária”.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom.

É um prazer lê-lo. Não só pelo conteúdo como também pelos aspectos ditos formais que revelam inequivocamente uma matriz cultural admirável.

Com um apontamento precioso ( que de resto me levam aqui hoje a escrever estas palavras): tem a coragem de dar o nome aos bois.

Obrigado

De

Anónimo disse...

Este é que era um bom artigo para o resistir.info. Devia ser proposto ao JF. Muito útil, muito pertinente, muito oportuno para combater descarrilamentos ideológicos de gente, porventura bem intencionada, mas que precisa de crescer, isto é, deixar-se de primarismos e infantilidades.

Por favor, que se considere esta sugestão, que lhe daria um muito maior alcance, em vez de ficar perdido neste cantinho relativamente obscuro da net.