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8 de junho de 2016

A CE faz o papel do papado medieval

A religião neoliberal, impõe-se na UE através de burocracias inimputáveis, dispondo de poder para impor orientações políticas, sanções e penalidades aos povos. O BCE pode decide sobre o funcionamento de um banco, as suas decisões são em conclaves com secretismo, o que é sabido no exterior é censurado, os participantes não podem revelar os fundamentos da decisão – como ficou evidenciado nas declarações de um inconcebível governador de banco central de um país supostamente soberano, chamado Carlos Costa na comissão parlamentar sobre o BANIF. O BCE é o banco central dos países do euro, mas independentemente das necessidades de um país pode cortar-lhe a liquidez, o fornecimento de moeda, se achar que…os interesses dos credores não estão garantidos.
Sabemos o caso das eventuais sanções que a CE pode aplicar a Portugal por um subserviente governo de direita…ter cumprido como “bom aluno” todas as regras que impuseram. Sabemos que a CE está a decidir se autoriza a capitalização da Caixa Geral de Depósitos, um banco do Estado português!
A CE age como o papado medieval que dispunha de poder para aplicar a “interdição” e a excomunhão sobre os povos caso não seguissem a sua dogmática ou não se submetessem às suas bulas.
Ao aplicar a interdição o poder régio ficava seriamente limitado nas suas funções, considerava-se que o país tinha profanado leis divinas, proibindo-se a administração de ofícios religiosos (por ex. casamentos, batizados, enterros religiosos, etc.). A excomunhão, ainda mais grave, separava o país do resto da cristandade.
Atualmente a burocracia da UE dispõe de poder idêntico. Que acontece a um país que desafie a teologia neoliberal da UE? A chantagem de separar o país da “Europa” é assumida como equivalente à excomunhão; o corte de financiamento em euros, ou dos  "fundos estruturais",  é equivalente ao “interdito” papal.
O que se passou e passa com a Grécia, as pressões sobre o OE português, com exigências atrás de exigências, mostra como os mandatários querem os povos humilhados a seus pés. A humilhação do Syriza perante a UE corporizou uma atual “ida a Canossa”. (1)
Os dogmas são outros, no tempo medieval eram a formulação de leis pretensamente divinas, a interpretação dos textos sagrados. Hoje as da teologia neoliberal, a interpretação unilateral e dogmática dos tratados da UE. O essencial mantem-se: o poder supranacional contra o poder nacional; uma burocracia ao serviço da oligarquia monopolista e financeira contra a expressão popular da democracia.
Na escolástica medieval não havia investigadores, apenas “comentadores” dos textos dos mestres, assimilados como dogmas. E ai daqueles que os contestassem…Os “comentadores” de serviço ao sistema, são a clerezia do neoliberalismo e suas instituições, FMI, BCE, CE, a troika dos interesses oligárquicos.
1 - Em 1077, Henrique IV do Sacro Império Romano Germânico, foi ao castelo de Canossa postar-se descalço (três dias e três noites) em pleno inverno para que o papa levantasse a excomunhão. Em causa estava o poder real frente ao poder papal sobre a condução dos povos.
 

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