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5 de dezembro de 2016

Comentários ao Congresso

Foi visível o incómodo dos comentadores. De facto, como disse Jerónimo de Sousa, “até nos Congressos os partidos não são todos iguais”. Os comentadores, especialistas em discutir sobre pessoas, em fazer glosas sobre as intrigas de bastidores, sobre quem vai fazer de mestre de sala dos interesses oligárquicos, ficam como que perdidos. Porém torna-se indisfarçável a sua mediocridade. É que no campo das ideias, discutir pessoas é o argumento dos medíocres.
Sente-se o ressentimento face à situação dos partidos da direita, dos quais mais ou menos sinuosamente sempre defenderam as opções. Que angústia verem os jovens assumindo os exemplos dos mais velhos e proclamando o marxismo-leninismo como a sua ideologia e base da sua militância.
Para o tal "caixote do lixo da história" caminha a social-democracia que se submeteu ao neoliberalismo. Também partidos que foram atrás dos cantos de sereia da social-democracia e “europeísmo” se tornaram irrelevantes social e politicamente, incapazes de apresentar alternativas mobilizadoras. Bem dizia Álvaro Cunhal: desconfiemos é dos elogios dos inimigos de classe (cito de cor).
O PSD tenta disfarçar a má figura que faz assumindo uma ridícula postura de extrema-esquerda: com o apoio ao governo PS, o PCP estaria a negar-se! Pelos vistos a “disfuncionalidade cognitiva” (pela qual fizeram uma birra de extrema-direita na AR) não era temporária!
A comunicação social lá teve que apresentar algo sobre o congresso. Nada comparado com outros partidos, até o BE teve mais destaque e divulgação de conteúdos. Caro, agora não havia questões pessoais…
O importante foi escondido, banalizado: “não trouxe surpresas”. Para os que erraram em tudo o que previram ou defenderam, não está mal! Claro que ignoraram a realidade das lutas travadas, da juventude militante, da determinação e confiança.
Não há dúvida têm razões para estar ressabiados. E a desorientada bidelbergiana, Clara F. Alves, sem saber que volta há de dar à sua política de direita, acha que se o PCP tivesse maioria de votos, já “não lhe achávamos tanta graça”. Graça?!
A “superior” inteligência dos comentadores tratou de escamotear dados que deviam ser divulgados para que o povo fizesse as suas escolhas em consciência: Apenas alguns exemplos:
- Com as privatizações o Estado arrecadou 40 mil milhões de euros, porém só entre 2014 e 2014 as empresas privatizadas no PSI 20 tiveram de lucro 44 mil milhões. (José Lourenço).
- Entre 2000 e 2014 a banca distribuiu de dividendos 8,5 mil milhões de euros mas as imparidades atingiram 16 mil milhões (Miguel Tiago)
- Entre 1996 e julho de 2016 o que saiu do país em juros, lucros e dividendos, foi superior em 82 mil milhões de euros ao montante líquido de tudo o que recebemos da UE. (Carlos Carvalhas)
- Desde a entrada no euro o crescimento económico médio foi nulo. (idem)
- (medida fundamental) A passagem para o direito português dos diversos contratos de dívida, permitindo o pagamento dos juros em escudos. (idem).
Será que a comunicação social controlada se tornou numa outra "casa dos segredos"?

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