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14 de abril de 2017

Fatima e Trump

PROVOCAÇÃO 
Dos dicionários: acto ou efeito de provocar! É velho como o mundo, a realização clandestina, anónima de determinado facto, atribuindo-a, ou melhor criando as condições para que outros a atribuam, ao adversário, e assim justificar decisões, «provocar» medidas de condenação, retaliação, pelo próprio (o autor do facto) ou terceiros! 
Talvez o mais conhecido: o incêndio do Reichstag em 23 de Fevreiro de 1933, pelos nazis de Hitler, atribuindo a culpa aos comunistas e assim justificar a sua perseguição e a proibição do Partido Comunista da Alemanha. 
Uns exemplos caseiros. Menos divulgadas, e não por acaso, a série de acções provocatórias desencadeadas no Verão Quente/PREC pelo ELP, MDLP, etc, com a participação da CIA e Carlucci e apadrinhadas por gente muito responsável de partidos que hoje andam por aí a falar muito indignadas contra o terrorismo. Acções que tiveram muitas vezes a “colaboração“ de grupelhos esquerdistas, “engolindo“ a provocação e fazendo o frete aos provocadores. Por exemplo, o cerco ao Congresso do CDS no Palácio Cristal, a revista ao arcebispo de Braga no Aeroporto de Lisboa pelo COPCON, o assalto à embaixada de Espanha na Praça de Espanha, entre outros. Menos conhecida, e não só porque não concretizada, por retração de quem a ia realizar, a projectada acção de terrorismo (bem ao jeito de algumas que vão acontecendo no presente), que Ramiro Moreira confessou à PJ: uma “encomenda para “que armadilhasse um automóvel, carregado com 100 quilos de plástico, para rebentar no Santuário de Fátima“. (Para uma revisitação pormenorizada e aumentada, ver o livro recentemente publicado de Miguel Carvalho, “Quando Portugal Ardeu“). O objectivo era cristalino: atribuir ao PCP e comunistas e outras forças de esquerda, a autoria material dos factos que os desacreditavam junto do povo e justificassem a sua repressão e os actos terroristas e bombistas de assalto ás suas sedes. E também contribuíssem para reverter o apoio popular ao MFA e ao 25 de Abril. 
E poucos (ao que parece), estarão já lembrados do Secretário de Estado da Presidência Bush, Colin Powel, exibindo ao Conselho de Segurança da 
ONU as provas das “armas destruição massiva“, incluindo as “lethal chemicals“ pretensamente existentes no Iraque, para justificarem o posterior invasão dos EUA e destruição de um País. Hoje, claramente reconhecido como uma das origens e razões da explosão do terrorismo e redes terroristas. Talvez fosse bom, alguns lembrarem-se do recente Relatório aprovado no Parlamento Britânico sobre o tema, condenando Blair. 
Ora, por estes dias a representante dos EUA no Conselho de Segurança, repetiu a cena, desta vez mostrando fotografias das vítimas do ataque com gás tóxico em Khan Sheikhoun (Idlib), atribuindo à Síria a responsabilidade da situação, para justificar o ataque com 59 mísseis Tomahawk a este país! 
Que os comparsas de Trump, Holland, Merkel, May e outros, na agressão à Síria façam por acreditar nisso, nada de admirar! Mas é absolutamente inacreditável, que jornalistas, comentadores e articulistas, dando provas da mais inacreditável vesguice política e ideológica, completa ausência de deontologia profissional e o total “mergulho” e cumplicidade com a onda mediática que preparou a decisão dos EUA, dêem como provada, a autoria moral e material do Estado sírio. Nem uma dúvida! Nem outras hipóteses, apesar das muitas razões para que sejam pelo menos equacionadas! Nada. Assad e o seu “regime” são réus e culpados! A sentença foi lavrada nas páginas dos jornais, rádios e televisões. Assim o provam os mísseis de Trump! 
Diga-se, não é por ignorância ou ingenuidade!
Agostinho Lopes

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